HISTÓRIA DA ARQUITETURA



A história da arquitetura está diretamente relacionada à evolução humana. A arquitetura passou a existir quando o homem começou a construir para se proteger de predadores e dos fenômenos naturais. Novas demandas sociais (como o crescimento das civilizações, a necessidade de interligação entre cidades, o abastecimento de água, a consolidação de crenças religiosas) ou mesmo a simples busca por formas agradáveis aos olhos forçaram a humanidade a buscar novos materiais, novas ferramentas e técnicas de construção. É assim que a arquitetura continua evoluindo até hoje.

Dos tijolos de barro seco ao concreto armado, das casas mais primitivas aos arranha-céus, das primeiras tumbas sagradas às grandiosas catedrais europeias, de pequenos vilarejos pré-históricos às ilhas artificiais, o arquiteto continua contando a história do Planeta Terra, em linhas, texturas e cores. É essa história que você vai conhecer a partir de agora, nesta reportagem especial sobre os grandes feitos arquitetônicos da humanidade.

Assim como acontece com quase toda atividade humana, é difícil determinar um período histórico ou uma região e dizer que a arquitetura começou naquele momento. A primeira notícia que se tem dela está ligada às cidades pioneiras que surgiram no Oriente Médio e na Ásia Central no sétimo milênio A.C. quando as primeiras residências foram construídas, usando tijolos de lama secados ao sol, conhecidos como tijolos crus — material que, ainda hoje, é um dos mais utilizados, principalmente em construções mais populares.

Em locais onde não era possível secar a lama ao sol, era difícil confeccionar o tijolo cru. A solução encontrada no sétimo milênio A.C. por povos da Europa Central e da Ásia Central foi usar argila ou areia e madeira-me (estrutura de tábuas de madeira entrelaçadas), numa técnica semelhante à das construções de pau-a-pique — técnica muito usada no Nordeste do Brasil.

Contudo, fazer uma casa para morar não era a única manifestação arquitetônica dos povos pré-históricos. Alguns se dedicavam à construção de tumbas para os mortos e templos de pedra para os deuses.

No quarto milênio A.C., a união política de povos que habitavam as margens do Rio Nilo deu origem à civilização egípcia. Assim como os povos da Pré-História, as principais construções egípcias eram templos para seus deuses e túmulos para seus faraós. Da mesma forma que alguns povos contemporâneos, os egípcios utilizavam tijolos crus. Mas, por acreditarem na ideia de que tudo deveria durar para sempre, necessitavam de um material mais durável. A solução encontrada foi desenvolver técnicas de construção com pedras.

Uma das inovações dos egípcios foi à utilização de encaixes de madeira que permitiam empilhar as pedras sem a necessidade de usar massa para prendê-las umas às outras. Graças a essa técnica, eles conseguiram construir colunas de pedra, em vez de madeira, e, consequentemente, edificações maiores e com coberturas mais pesadas.


Viver para sempre

Os egípcios acreditavam na vida após a morte, mas não na ideia de reencarnação. Para eles, os mortos continuariam vivendo, mas em outro mundo, sem voltar a Terra. Por isso, na cultura egípcia, a preservação e a perpetuidade dos corpos e túmulos dos faraós eram essenciais. Se o corpo do faraó ou os objetos deixados para ele na tumba fossem danificados, sua existência no outro mundo estaria comprometida.

Além de utilizar esse método na construção de templos, os egípcios o utilizaram para fazer túmulos. Originalmente, as pessoas eram enterradas em tumbas escavadas na rocha, a exemplo de muitos outros povos pré-históricos. Com o tempo, para marcar os túmulos dos faraós e tentar protegê-los de ladrões, eles passaram a empilhar tijolos sobre os túmulos, gerando uma estrutura conhecida atualmente como, mas taba. E, à medida que foram desenvolvendo suas técnicas de construção, foram substituindo os tijolos por pedras.

• As pirâmides foram construídas por poucos faraós. Muitos preferiam hipógeos escavados na rocha sob o vale dos reis. As três grandes pirâmides de Gizé foram erguidas durante a IV dinastia.

Apesar de manter uma forte ligação com a religiosidade, a arquitetura grega se destaca pelo grande valor dado à razão. Em tudo que produziam e construíam, os gregos buscavam alcançar o máximo da perfeição por meio de cálculos matemáticos e geométricos, regras, proporções e perspectiva. As esculturas, a perfeição geométrica dos templos gregos, a organização e o planejamento das cidades gregas e seus teatros destacam-se no curso da história da arquitetura. Por tudo isso, e também pela beleza, a arquitetura grega é chamada de clássica.

As construções gregas mais famosas foram feitas de mármore. Esse elemento começou a ser usado no século VI A.C., juntamente com técnicas de encaixe semelhantes às dos egípcios — que utilizavam madeira. Com o passar do tempo, após o domínio da confecção do ferro, os gregos substituíram o encaixe de madeira por encaixes e dobradiças de metal, dando mais resistência às suas estruturas.
A arquitetura romana foi bastante influenciada pelos gregos (templos, caráter realista, preocupação com o belo). Também foi direcionada pelo grande espírito guerreiro e prático dos próprios romanos. Suas conquistas eram celebradas com esculturas, monumentos, obeliscos e arcos de triunfo. Mas as principais marcas deixadas pelos romanos foram às estradas construídas em linha reta — para facilitar o deslocamento rápido das legiões de guerreiros — e os aquedutos para abastecer e desenvolver as colônias romanas espalhadas pelos territórios conquistados.

Os romanos não habitavam um território quente o suficiente para a produção de tijolos crus de boa qualidade e não tinham acesso a pedreiras de mármore até conquistarem a Grécia. Portanto, precisaram buscar outro tipo de material para usar em suas construções. A solução encontrada foi o opus cementicium, uma mistura de areia vulcânica com calcário e ladrilhos quebrados, um “ancestral” do cimento. Com essa massa, eles conseguiram construir estruturas monumentais, como a cúpula do Panteão, que tem 43,2 m de altura e nenhum pilar de sustentação.

A Idade Média, período que compreende cerca de 10 séculos (V a XV), foi à época da construção de algumas das igrejas mais importantes da História, que são referência até hoje, principalmente no mundo cristão. Uma marca registrada da Idade Média são as catedrais góticas, que têm como maior exemplo a Catedral de Notre Dame, em Paris, construída entre 1163 e 1250. São igrejas gigantescas, que simbolizam a tentativa de alcançar os limites celestes e tocar, com suas torres pontiagudas, em Deus. Altas e espaçosas serviam para acolher em seu interior o maior número possível de fiéis, o que era difícil de fazer nas igrejas de estilo românico.

Para dar suporte à tamanha grandeza, surgiram inovações arquitetônicas, como os arcobotantes, que escoravam as altas paredes externamente para liberar o interior da igreja; colunas nervuradas mais delicadas e capazes de suportar maior peso; arcos ogivais responsáveis pela elevação vertical da construção e pela distribuição do peso das abóbadas em vários pontos simultaneamente. Na decoração interna, destacam-se rosáceas e vitrais muito coloridos e trabalhados, que causam um mágico efeito de luzes, cores e sombras.

Os castelos também se destacam no panorama da arquitetura medieval. Grandes e imponentes, eles visavam garantir segurança aos nobres senhores feudais, diante das constantes guerras que assolavam a Europa naquele período. Tinham grossas muralhas e torres de vigia com aberturas para seus arqueiros atirarem em defesa, quando fosse necessário.

O Renascimento está associado a ideias como razão, humanismo e antropocentrismo — o pensamento de que o homem está no centro de tudo. É aí que começa a aparecer o nome do autor de cada obra de arte ou construção, elevando a figura do artista e do arquiteto (funções que, em muitos casos, eram exercidas pela mesma pessoa). São dessa época nomes como Brunelleschi, Bramante, Palladio, Michelangelo, Rafael e Leonardo da Vinci, ainda hoje lembrados e admirados.

O futuro desses homens acabou se desenvolvendo graças ao passado de outro: o arquiteto romano Vitrúvio. O achado de seus famosos dez livros proporcionou aos renascentistas noções e técnicas de perspectiva, proporções e planejamento (incluindo a construção de maquetes).

Da mesma forma que na Idade Média, as principais construções do Renascimento foram catedrais, com destaque para as cúpulas, assim como na Roma Antiga. Os principais exemplos são a cúpula da Basílica de São Pedro, em Roma (idealizada por Bramante e finalizada entre 1588 e 1591 por Michelangelo e Giacomo della Porta) e a cúpula de duas conchas, em Florença. A cúpula de Florença foi construída entre 1420 e 1436 e idealizada por Brunelleschi, o pioneiro da arquitetura renascentista.
No início do século XVII, a Europa conheceu a arquitetura barroca. Sua principal característica era tentar emocionar e impressionar com o exagero no tamanho das obras e no uso de elementos decorativos. O Barroco coincidiu com o período da Contrarreforma da Igreja Católica, que buscava barrar o crescimento do protestantismo, e acabou sendo usado pela instituição com a finalidade de impressionar as pessoas e resgatar fiéis.

O Barroco coincidiu também com o período do absolutismo e, aos poucos, os chateausforam dando lugar a palácios, prédios propositadamente largos que serviam como símbolos do poder e da riqueza do monarca. Eram construídos com uma área central em destaque e eliminaram as torres “camufladas” dos chateaus. Todo palácio também tinha que ter um gigantesco jardim, que deveria ser o mais elaborado possível, com canais artificiais, fontes, estátuas e uma grande diversidade de flora e fauna.

A partir de 1750, começa a era da produção industrial, das máquinas e da energia a vapor: tudo isso se faz representar também na arquitetura. As construções definitivamente passam a ser voltadas à praticidade, rapidez e economia de tempo e dinheiro.

Após a Revolução Industrial, as pontes passaram a ganhar o destaque que até então cabia às catedrais na arquitetura. Construir pontes para transpor vales e rios era essencial para fazer a economia acelerar. Modelos construídos em arco, utilizando o ferro, tornaram-se a ordem do dia a partir de 1779, quando foi construída a Ironbridge (ponte de ferro), em Coalbrookdale, Inglaterra, eliminando a necessidade de utilizar balsas para cruzar o Rio Severn, o que custava muito tempo às indústrias da região.

Na Inglaterra, desde o fim do século XVII, investiu-se em novas técnicas de se produzir ferro em larga escala. Em 1707, em Coalbrookdale, a primeira alternativa viável foi obtida quando Abraham Darby patenteou um método de produção de postes de ferro usando fornalha a combustão. O ferro revolucionou as construções, fazendo com que fosse possível produzir estruturas mais leves, sem paredes internas e com janelas enormes. E o melhor: em menos tempo.

Mas o ferro era corrosivo e não era forte o suficiente para atender as necessidades da Revolução Industrial. A solução surgiu em 1855, quando Henry Bessemer patenteou um novo tipo de fornalha que permitia a produção de aço (espécie de “ferro mais resistente”, obtido em fusão com liga de carbono) em escala industrial. Pouco depois, em 1870, começou a construção da Brooklin Bridge, a primeira ponte no mundo feita de aço. Na época, era também a maior de todas as pontes suspensas: 50% mais longa do que as que já existiam. Desde então, o aço passou a ser um dos materiais mais usados na construção de grandes pontes.

Diferentes tipos de concreto foram inventados ao longo dos tempos, mas somente no século XVIII os ingleses conseguiram desenvolver um tipo de fácil produção e que pudesse ser disponibilizado em escala industrial. A utilização do material em grandes obras era um pouco limitada, até que, no final do século XIX, ele passou a ser despejado sobre varas de aço. Surgiu, então, o concreto armado, que permite a construção de grandes estruturas, pois suporta muito bem o empuxo, sem desmoronar. Ao longo do século XX, ele se tornou o principal material para a construção de pontes.

No Brasil, a arquitetura sofreu influência principalmente das construções europeias. É por isso que aqui, normalmente, fala-se da história da arquitetura com foco naquele continente. Mas, existem várias outras escolas arquitetônicas não ocidentais que, apesar de não serem muito expressivas em nosso País, são bastante relevantes no contexto mundial.

A arquitetura moderna passou a ser o estilo dominante no início do século XX. São várias as tendências modernistas, mas as mais difundidas buscavam romper com todos os padrões históricos anteriores. A ordem era priorizar a finalidade da obra e eliminar ao máximo os ornamentos. Pela primeira vez, residências e construções comerciais passaram a ter destaque arquitetônico. A prova disso é que, em vez de igrejas, catedrais e palácios, o principal marcos do modernismo é gigantescos prédios de escritórios e apartamentos: os arranha-céus.

Só foi possível construir arranha-céus após a disponibilização do ferro (1707), aço (1885), concreto (final do século XIX) e vidro (1827) em escala industrial. Construções com mais de seis andares também eram ineficazes até a invenção dos elevadores (1853) e da bomba d’água (início do século XIX). Esta resolveu o problema de se levar água da base até o topo dos edifícios, e o elevador se encarregou de levar as pessoas para cima e para baixo com o máximo de rapidez e conforto e o mínimo de esforço.

O ponto inicial da história dos arranha-céus pode ser considerado a construção do moinho Flaxmill, na Inglaterra, em 1797, a primeira edificação com vigas e colunas de ferro para sustentar paredes de tijolos. Em 1884, foi construído aquele que pode ser considerado “o primeiro arranha-céu” de aço e tijolos, apesar de ter apenas 10 andares (na época, isso já era muito): o edifício Home Insurance, em Chicago. A partir daí, virou competição: em 1931, Nova Iorque ganhou o primeiro arranha-céu com mais de 100 andares: o Empire State Building; e, em 1972, o World Trade Center. Dois anos depois, Chicago construiu a Sears Tower, que manteve o título de prédio mais alto do mundo até a conclusão do Taipei 101, em Taiwan, no ano de 2003. Atualmente, o troféu é Torre Dubai, nos Emirados Árabes, que, mesmo estando ainda em construção, já ultrapassou todos os outros arranha-céus do planeta. A expectativa é de que ela atinja 818 metros, quase o dobro do Empire State.

A tendência mais difundida na arquitetura contemporânea é o pós-modernismo, que prega a colisão de estilos anteriores e a adoção de assimetria e formas geométricas não lineares (desconstrutivismo). Bons exemplos desse estilo são a Torre do Banco da China, em Hong Kong, e o edifício sueco Turning Torso.

O século XX foi o período em que o homem mais poluiu a Terra e explorou suas reservas naturais, levando muitas ao esgotamento. Isso nos leva a outra corrente que chama muito a atenção: a de obras ambientalmente sustentáveis, ou seja, que causem o menor impacto possível no meio ambiente. Provavelmente, o maior exemplo disso seja o “30 St Mary Axe”, em Londres, edifício de 180 metros que consome metade da energia que um prédio do mesmo porte.

O extremo dessa tendência está na China, que é, ironicamente, o maior poluidor do planeta. Dongtan é o nome da “ecópole” que os chineses estão construindo na Ilha de Chongming, com a ambiciosa meta de emissão zero de CO2. Como? Fazendo prédios baixos que não precise de elevador, sistema inteligente de distribuição de água que permite gastar metade de uma cidade normal, transformando lixo e esgoto em gás de cozinha e usando apenas energia solar. O povoamento será gradual, de forma a estabelecer um crescimento organizado, até a marca de 500 mil habitantes em 2050.

Quais serão os próximos desafios que a vida vai impor ao progresso da humanidade? E como nós vamos solucioná-los? É essa a história que o homem continua ajudando a contar. Ela não é feita apenas de aço, concreto ou qualquer outro material, é feita, sobretudo, de sonhos e de superação de obstáculos: é a história da arquitetura.

Bibliografia, Reportagem: Por Camila Souza, César Munhoz, Ederson Santos Lima, Maria Eugênia Gomez e Ricardo von Staa

Nenhum comentário: